06/01/2022

VINGADOR NEGRO - UMA PETIÇÃO DE NATAL - PARTE 2 DE 2

 4


O saloon Bebidas do Charlie ficava na saída de Austin. Sua fachada exibia uma placa velha com letras desgastadas e sujas. As janelas há muito não eram tocadas por um pano ou água – exceto da chuva.

Bebidas do Charlie também não era um grande saloon. Na parte interior, oito mesas ocupavam o centro, um piano com as teclas faltantes decorava o lado esquerdo e os banheiros à direita. Ao fundo, o balcão de madeira com rachaduras.

Naquela noite, um grupo de quatro bandidos estava brindando. Um deles, barbudo e careca, exibia dentes sorridentes enquanto se gabava de sua história.

– Eu apostaria com o próprio diabo – ele dizia – Que o novo xerife não tem coragem de me prender. Se fosse o Ray Winston, bom, talvez.

– Pode ser, Bill! Provavelmente, Ray tentaria negociar e ficar com uma parte do dinheiro – um segundo argumentou; portava uma cabeleira cacheada e roupas empoeiradas.

– E nós lhe daríamos o prazer de receber o chumbo de nossas pistolas – riu o terceiro membro, mais novo, com olhos pequenos e queixo fino.

– Que se dane! Austin fica bem servida com um xerife medroso – exaltou o quarto membro.

– Só o que me preocupa ainda é aquele mascarado. Eu cortaria minha barba para encontrá-lo e dar um jeito nele – Bill resmungou com os dentes cerrados.

– Então que alguém traga uma faca!

Os quatro membros do grupo olharam para a entrada. Ali, em pé, com uma rapieira em mãos, um homem sorria. Uma capa preta dançava em suas costas acobertando parte de sua roupa, também de cor preta. Uma máscara escondia seus olhos deixando apenas a parte da boca à mostra e um chapéu limpo repousava em sua cabeça.

Ninguém disse nada por alguns segundos. Mesmo os outros cinco clientes que ocupavam uma mesa mais próxima do balcão pareciam surpresos. O barman segurava um copo que ainda não terminara de secar.

– Mudou de ideia, Bill? – o mascarado quebrou o silêncio.

– Vingador Negro… – murmurou o bandido mais novo levando a mão ao coldre.

Mas, tão rápido quanto a atitude instintiva do bandido foi a ação do mascarado, postando-se imediatamente em frente da mesa dos facínoras e levando a lâmina de sua espada à garganta do rival.

– Senhores, vamos tratar isso como cavalheiros, sim? – o mascarado falou.

Embora o grupo não tenha concordado com a proposta, a atitude seguinte respondeu a pergunta. Bill se levantou rapidamente e ergueu a mesa na direção do Vingador Negro. O mascarado também agiu. Sua lâmina rasgou a mão do bandido mais novo e depois acertou a perna do criminoso à sua esquerda. 

No instante seguinte, ele saltou por cima do bandido jovem e uma bala zuniu perto de seu ouvido. 

Sua espada encontrou o terceiro membro do grupo e arrancou o revólver de suas mãos para longe.

Os olhos do Vingador notaram quando Bill quebrou uma janela do saloon para a fuga. 

Bill correu para o lugar onde lembrava de ter deixado seu cavalo. Porém, ficou surpreso ao perceber que alguém tinha soltado os animais.

– Eles estão livres. Coisa que você vai ficar sem saber durante um bom tempo – disse uma voz atrás dele.

Bill se virou pronto para disparar. Mas um chicote atingiu sua mão e o revólver rodopiou até o chão.

O mascarado abriu um sorriso debochado para ele.


5


Rubens acordou no meio da madrugada com alguém gritando seu nome. Vestiu uma calça às pressas e saiu.

A cena que presenciou fez suas pernas estremecerem. Havia quatro homens amordaçados e amarrados à sua porta. Mais distante, próximo a cerca, um vulto fantasmagórico trajando vestes pretas e montado em um corcel escuro, esperava.

– Santa Maria! – o homem bradou.

– Estes são bandidos procurados – o vulto falou – Leve-os até o xerife e peça a recompensa por eles. Com esse dinheiro, você será capaz de pagar seus impostos.

Rubens não conseguiu proferir palavra alguma. Ficou olhando enquanto o corcel e seu guia eram engolidos pela escuridão da noite.


EPÍLOGO


– O que é isto, Júlia? – o padre perguntou olhando para o bolo de milho.

Os olhos da menina reluziam de alegria como um rio impetuoso e livre.

– Um presente – ela respondeu.

Maria, sua mãe, estava em pé ao lado dela.

– Um presente de Natal para mim?

– Na verdade, eu gostaria de presentear o menino Jesus, mas minha mãe disse que podíamos presentear uma pessoa, pois isso seria o mesmo que presenteá-lo. Como o senhor dá comida para muitas pessoas todos os dias aqui na igreja, achei que seria legal oferecer algo diferente para eles no Natal.

O padre sorriu.

– Oh, quem dera todos tivessem um coração com pensamentos tão nobres. Tenho certeza de que Jesus ficará feliz com isso.

A menina abriu o maior sorriso do mundo. Olhou novamente para a imagem de Jesus crucificado. Porém, em sua mente agora, Jesus usava capa e máscara.


FIM


POR NAÔR WILLIANS

NOVO!

O VINGADOR NEGRO - O MAU RANCHEIRO - 10 de 10 - Final

Na vastidão do rancho de Dom Gabriel, um homem de quase trinta anos com a energia e visão de quem entende a complexidade da vida, a notícia ...