27/10/2021

VINGADOR NEGRO - A LÂMINA DA JUSTIÇA - PARTE FINAL

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Ray estava fugindo. Ele pretendia terminar de raspar o cabelo assim que alcançasse a fronteira. Provavelmente, a vantagem poderia salvá-lo da forca. O xerife pegou um saco com duas mudas de roupa e um pouco de munição, ajeitou seu coldre, colocou o chapéu e abriu a porta.

Entretanto, ele deu de cara com a ponta de uma lâmina afiada.

– Não se mova – disse o sujeito por trás da rapieira; era o mascarado.

Ray levantou as mãos e deixou o saco com as roupas cair no chão. Ele recuou. O mascarado entrou no aposento e fechou a porta.

– Você não vai me chantagear – resmungou Winston.

– Do que está falando?

– Recebi seu bilhete. Sei que você está com a maleta, ou talvez à essa altura já tenha entregado no forte Austin.

O mascarado coçou a cabeça um segundo antes de entender tudo. Em seguida, soltou uma gargalhada sarcástica e falou:

– Agora eu entendi tudo. Seu assistente é mais esperto do que eu previ. Tem uma mente bastante sagaz.

– Brian? – indagou Ray.

– Eu não escrevi nenhum bilhete para você, embora vontade não faltasse. De fato, estou com a maleta de dinheiro, tirei-a das mãos sujas de seu assistente.

– Que o inferno engula você, Brian Branner – praguejou Winston.

– Mas veja pelo lado bom – continuou o mascarado – Isso quer dizer que Brian voltou para Austin. E, provavelmente, ele enviou um bilhete semelhante para D. Rodrigo.

– Diabos!

– Parece que seu antigo assistente quer que vocês se matem ou fujam, isso colocaria toda a culpa pelos roubos sobre seus ombros. E ele ficaria isento.

Ray praguejou outra vez.

– E o que você quer comigo? – Ray perguntou.

– Quero que faça aquilo que foi contratado para fazer – o tom da voz do mascarado soou soturno – Cumpra a lei.

Winston baixou os olhos.

 – Você colocou três víboras para me caçar, porém, elas estão voltando para destilar seu veneno contra você – revelou o mascarado.

– Os irmãos Barreto? Por que me matariam?

– D. Rodrigo pagou muito dinheiro pela sua cabeça. E os caçadores de recompensa sempre estão mais atrás do ouro do que da honra.

– Malditos chacais!

– Agora, você deve ir até o forte Austin e denunciar todo o seu trabalho de roubo.

Ray fitou o sujeito por trás da máscara. Olhou para o chão, para seus revólveres no coldre.

– Você não tem escolha, Ray. E, acredite, Brian está contando justamente com sua recusa para triunfar.

O xerife deu de ombros.

– Se vou para a forca levarei Rodrigo e Brian comigo.

– Vamos logo, não temos muito tempo.

Naquele momento, os dois foram surpreendidos por uma saraivada de tiros que estilhaçou a janela do quarto.

– Por aqui! – gritou Ray abrindo a porta dos fundos.

O mascarado seguiu-o.


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D. Rodrigo estava em casa aprontando suas malas. Voltaria para San Antônio onde conhecia todos os juízes e advogados que poderiam libertá-lo por uma quantia de ouro. Fato era que seus negócios em Austin estavam acabados.

Porém, enquanto arrumava as malas, alguém entrou em seu quarto. De início, ele imaginou que seria algum criado ou quem sabe um de seus capangas voltando da caçada à Brian. No entanto, quando o cano do revólver reluziu ante a luz que vinha da janela, Rodrigo percebeu que sua visita era o próprio Brian Banner.

– Se preparando para viajar? – questionou Brian.

Rodrigo não respondeu. Ficou pálido instantaneamente.

– Deixe-me adivinhar… San Antônio?

– Você é um miserável, Brian!

Bang! O cano da arma fumegou. O disparo atingiu o peito de Rodrigo em cheio. Ele caiu no chão. Levou as mãos ao peito e elas voltaram cheias de sangue.

– Obrigado por matar Ray para mim – disse Brian – Quando a poeira baixar, vou encontrar o Vingador Negro e fazê-lo pagar. Quem sabe ele ainda esteja com o dinheiro.

Brian disparou de novo. A cabeça de Rodrigo tombou. Havia um rombo enorme em sua testa.


17

Ray e o mascarado saíram em uma rua. Um idoso estava encostado na entrada de um mercado e uma senhorita passava do outro lado. O mascarado assobiou e um corcel negro surgiu quase imediatamente.

– Vá para o forte Austin – disse o mascarado – Eu vou dar conta dos irmãos Barreto.

Ray não questionou e montou o cavalo.

– Faça a escolha certa, Ray.

Assim, o xerife arrancou poeira das ruas de Austin ao mesmo tempo em que os irmãos Barreto entravam na casa dele. Carlos viu a sacola com roupas no chão e a porta dos fundos aberta.

– Ele está fugindo! – ele esbravejou.

Os irmãos se embrenharam porta afora, passando por outro cômodo pequeno e descendo uma escadaria que levou-os até a rua. Eles se pegaram surpresos quando se depararam com o mascarado esperando no meio da rua. A lâmina dele reluziu contra o sol quando os três se posicionaram à sua frente.

– Eu dei a vocês uma chance de ouro – o mascarado falou – Mas vocês rejeitaram a minha oferta. E, mais ainda, cometeram um crime contra uma mulher inocente como uma forma de vingança. Pois, eu lhes digo, a justiça será saciada hoje.

– Ele não pode lutar contra três! – Carlos bradou e desembainhou a sua rapieira. Seus irmãos o imitaram.

Por trás da máscara, Carlos conseguiu ver os olhos desafiadores de seu rival. Não havia hesitação ou medo naquele olhar. Apenas confiança.

Carlos atacou primeiro e seus irmãos seguiram-no poucos segundos depois. O mascarado desviou do primeiro, desarmou Sérgio que vinha em segundo e desferiu um golpe que abriu a parte traseira do tornozelo de Fernando. Este último irmão Barreto caiu no chão e gritou.

– É só isso que os irmãos Barreto tem para mim? – ele desafiou.

Sérgio recuperou sua arma e investiu em seguida. Estocou certeiramente. O mascarado bloqueou e recuou. Carlos também avançou enquanto Fernando tentava manter seu pé colado ao seu tornozelo – todos os nervos e tendões tinham sido cortados.

Os dois irmãos estocaram com uma grande habilidade, mas não foi suficiente. O mascarado lutou contra os dois exibindo um sorriso debochado no rosto e quando Carlos tentou um novo ataque, recebeu uma cotovelada no rosto que fez sua cabeça tontear. Em seguida, a lâmina de Sérgio atingiu a capa do rival e deixou um rasgo no tecido preto. Porém, no momento posterior, a rapieira do mascarado desceu certeiramente em seus pulsos e arrancou suas duas mãos.

Sérgio soltou um grito enquanto a rua era manchada de sangue.

Carlos urrou e avançou contra seu inimigo. Cego pela fúria, tentou estocar desastradamente e foi frustrado pelos movimentos precisos do rival.

– Patético – o mascarado zombou.

A lâmina do mascarado atravessou o golpe desorganizado de Carlos e atingiu a guarda de mão da espada do Barreto tirando a arma do poder dele. A rapieira rodopiou no ar e foi capturada pelo mascarado.

Carlos olhou a ação, incrédulo. Sacou seu revólver, pronto para disparar. Entretanto, o chicote do mascarado foi rápido desarmando o caçador de recompensas. 

Carlos esquadrinhou a rua à procura de um cavalo, mas, exceto por um pequeno público na frente do mercado, não havia mais ninguém no local.

– Já vai fugir? – o mascarado disse – Não é tão fácil vencer quando seu rival não é uma prostituta ou um cidadão de bem.

Então as duas espadas foram fincadas no chão.

– Mas posso acabar com você apenas com isso – o mascarado mostrou os punhos cobertos por uma luva preta.

Carlos sentiu uma gota de suor descer pelo pescoço e cerrou os punhos. Ele conseguiu bloquear os primeiros golpes do rival, mas também não revidava. E, aos poucos, as porradas se tornavam mais pesadas e mais difíceis de aguentar. Ele precisava contra atacar. Carlos desferiu um soco e acertou o estômago do mascarado, porém, também foi atingido no rosto. Por um instante, seus pés cambalearam e seu corpo ziguezagueou, mas ele sacudiu a cabeça e se manteve firme. O Barreto não esperou e avançou com uma série de porradas usando o máximo de sua força. O mascarado resistiu aos quatro primeiros ataques, mas precisou recuar ao ser atingido no rosto também. Carlos prosseguiu com a sucessão de golpes, mas não entendeu como o punho do mascarado deslizou por uma abertura entre seus socos e encontrou sua cara. O som do golpe mostrou a sua eficácia e Carlos desabou no chão perdendo os sentidos momentaneamente.

O mascarado agarrou-o pela gola.

– Olhe bem para mim, desgraçado – o mascarado virou o rosto de Carlos para si – Olhe no fundo dos meus olhos. Esse é o último rosto que você verá... Eu sou a justiça para pessoas como você.

A cena seguinte deixou o público do mercado sem dormir por algumas noites.


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Recorte do Jornal Austin News:


XERIFE É PRESO E CONDENADO POR ROUBO


Neste final de semana, Austin foi sacudida por inúmeras situações bizarras. Uma delas foi o caso do xerife Ray Winston que estava envolvido nos recentes roubos do salário dos soldados do forte Austin. Junto ao xerife, D. Rodrigo, um rico fazendeiro da região, também estava envolvido, sendo um dos principais mandantes do crime. Além dele, o ajudante do xerife, Brian Banner, e um jovem espadachim, D. Dalton, também eram cúmplices.

Ray foi preso e condenado a trinta anos de prisão após ter se entregado e delatado todo o crime. D. Dalton foi preso dentro da igreja quando estava se confessando ao padre. Ele foi condenado a doze anos.

Porém, parece que o destino de D. Rodrigo foi mais bizarro já que ele foi encontrado morto em sua casa com um tiro na cabeça e no peito. Algumas testemunhas afirmam que viram Brian Banner pouco antes da morte do fazendeiro.

O paradeiro de Brian permanece desconhecido.



Recorte do Jornal Austin Weekly:


TRIO DE CAÇADORES DE RECOMPENSAS É ATACADO


As ruas de Austin foram banhadas de extrema violência neste final de semana. O trio de caçadores de recompensas conhecido como Irmãos Barreto foi atacado brutalmente na cidade em pleno dia.

Segundo Carlos Barreto, o ataque foi repentino e pegou-os de surpresa. “Meus irmãos e eu estávamos conversando na frente do mercado quando um homem mascarado surgiu e nos atacou. Não tivemos tempo nem para nos defender”, contou o caçador de recompensas. 

O mascarado misterioso deixou Sérgio Barreto com as mãos decepadas, Fernando Barreto com o tornozelo cortado e Carlos teve os olhos perfurados pelo agressor.

Sérgio acabou morrendo no local devido a perda de sangue enquanto o pé esquerdo de seu irmão, Fernando, foi amputado. Carlos Barreto ficou cego.

Embora os irmãos sobreviventes afirmem que havia testemunhas no local, nenhum cidadão foi à delegacia para denunciar o atentado, e portanto, o novo xerife de Austin decidiu fechar o caso.

“Estamos organizando tudo após esse crime envolvendo o xerife e alguns cidadãos, então não podemos perder tempo com casos em que não há testemunhas”, declarou o novo xerife.

Carlos e Fernando deixaram a cidade nesta segunda-feira.


Recorte do jornal Austin Todo Dia:


BRIAN BANNER É ENCONTRADO NA PORTA DA DELEGACIA


Após um fim de semana cercado de acontecimentos bizarros, a semana na cidade estava calma, praticamente retornando ao normal. Porém, a sexta-feira, que deveria ser mais um dia comum, voltou a ter novidades sobre o caso do xerife Ray e do fazendeiro D. Rodrigo.

O novo xerife foi acordado em sua casa com a notícia de que Brian Banner, envolvido no roubo dos salários dos Forte Austin, estava amordaçado na frente da delegacia.

E, realmente, era verdade.

Além de ser julgado pelo caso dos salários, Brian também foi acusado pela morte de D. Rodrigo, fato que ele confirmou. O ex-ajudante do xerife Ray foi condenado à forca e será executado neste domingo.

As informações sobre a captura de Banner permanecem um mistério já que ele se recusou a falar a respeito de quem deixou-o amordaçado na frente da delegacia.

O novo xerife encerrou o caso.


FIM


POR NAÔR WILLIANS


NOVO!

O VINGADOR NEGRO - O MAU RANCHEIRO - 10 de 10 - Final

Na vastidão do rancho de Dom Gabriel, um homem de quase trinta anos com a energia e visão de quem entende a complexidade da vida, a notícia ...