O xerife Carl McCade, um homem na casa dos quarenta anos com aparência de cinquenta, tinha acordado irritado. Ele já era um sujeito irritado por natureza, seja porque tivera que tomar as responsabilidades de casa logo cedo por conta da morte de seu pai ou seja porque estava perdendo as estribeiras desde que se tornara o xerife de Austin. Indígenas, mexicanos, americanos e a guerra de etnia eterna, além do mascarado justiceiro agindo por conta própria. De um lado, o prefeito e os nobres cobrando a captura do mascarado, não por justiça, sim, McCade sabia que aqueles homens só estavam pensando em si mesmos. Enquanto isso, o povo mais pobre não buscava mais a ajuda da lei e sim de seu salvador vestido de negro.
A situação só piorara quando Jake Callahan, um bom jovem, mas emocionado por confrontos, trouxera uma dúzia de mexicanos para o escritório. Junto com Callahan, D. Hernandes e dois de seus capangas afirmando que os mexicanos haviam roubado bois de sua fazenda — que não ironicamente ficava ao lado do terreno dos mexicanos.
— Nós flagramos o roubo — Hernandes afirmou com o peito estufado e autoridade na voz. — Pergunte ao Jake.
Jake, como sempre, não demorou a confirmar:
— Escondidos em uma caverna por um arbusto.
— Señor, sequer sabíamos da existência de tal caverna em nosso terreno — um dos mexicanos comentou.
— Fique calado! Escória maldita.
— Ei, Hernandes, vamos com calma, eu estou há trinta anos com uma dor de cabeça dos infernos — o xerife falou.
— Senhor Hernandes, caro xerife. Gostaria de não perder os modos de etiqueta.
— Então não perca os modos com os mexicanos também, afinal, temos aqui uma acusação séria que precisava ser investigada.
— Investigada? — o homem quase perdeu as boas maneiras em seus trajes elegantes. — Não ouviu Jake e meus homens dizendo que encontraram meus bois no flagrante?!
McCade coçou os olhos de forma teatral.
— Como explicar…? Todos têm direito a uma investigação e a um julgamento justo.
— Até os mexicanos? — dessa vez foi Jake quem indagou.
— Se eles são seres racionais e pensantes, então de acordo com as leis desse país e dentro da minha jurisdição, sim. E nada será dito até que eu lhes chame para interrogatório.
— O senhor também quer nos interrogar, xerife? — um dos capangas de Hernandes pareceu indignado.
— Meu caro, não irei explicar como fazer meu trabalho, mas se quer fazer as coisas do seu jeito, sugiro que vá se tornar xerife.
— Já tinha ouvido falar do seu modo rude, mas nunca pensei ser verdade — Hernandes rebateu.
— Desculpe meu humor, D. Hernandes, mas eu não tenho tempo para tomar chá à tarde e contabilizar meus dólares no fim de semana. Tudo o que contabilizo são pessoas me enchendo a paciência e criando caso quando um boi sai de uma fazenda e aparece em outra.
Hernandes colocou a mão na cintura e disse:
— É isso que o senhor pensa?
— Essa seria a primeira dedução de qualquer pessoa sem segundas intenções. Mas, por favor, me permita terminar a minha investigação e depois terei prazer em dar meu veredito.
D. Hernandes e seus capangas deram de ombros e saíram do escritório, apenas Jake e os mexicanos permaneceram.
— Mas McCade, eu encontrei…
— Jake, por favor, me poupe de suas tolices.
O jovem baixou a cabeça com a cabeleira loura.
— Por todos os diabos, agora eu tenho que arrumar essa bagunça.
CONTINUA...
POR NAOR WILLIANS
Nenhum comentário:
Postar um comentário