Ao atravessar o corredor de tábuas empenadas, fomos recebidos pelo gerente da pousada, Vargas. Usava uma camisa vinho de manga comprida — inadequada para o calor úmido — e sorria como quem tenta disfarçar pressa. Cumprimentou Billy com um aperto de mão formal demais para um garoto e me lançou um olhar demorado, como se buscasse decifrar códigos antigos no meu rosto.— Vocês são os últimos hóspedes a chegar. Espero que a viagem não tenha sido cansativa — disse, desviando o olhar para o registro na prancheta. — Cuidamos da segurança aqui. Se precisarem de qualquer coisa, me procurem.
O quarto era apertado, com uma janela voltada para a mata cerrada e paredes cobertas por pinturas rústicas. Billy caminhou até um quadro próximo à porta, examinando com atenção o desenho de uma criatura de cabelos flamejantes e pés virados para trás. Outras ilustrações do mesmo personagem — entre árvores, fogueiras, até mesmo no teto — marcavam presença em cada canto. O sotaque apressado de Vargas soou atrás de nós:
— Aqui chamam de Curupira. Protetor da floresta. Dizem que confunde caçadores e quem entra sem permissão.
Billy tocou o quadro suavemente, olhos brilhando de perguntas não feitas. Me sentei na cama, tentando não pensar no fato de que o colchão parecia ligeiramente úmido, nem no cheiro persistente de mofo. Vargas ajustou a persiana improvisada e, antes de sair, parou na porta.
— Assim que estiverem acomodados, preciso falar com vocês. É urgente — disse, a voz baixa, tão grave quanto promissora de segredos. O rangido da porta ecoou após sua saída. Billy segurou uma das ilustrações do Curupira, o olhar fixo nos pés ao contrário.
— Se até o gerente parece assustado, é porque a coisa aqui é séria, Hustler — murmurou. O silêncio, enfim, pareceu mais cheio do que nunca.
CONTINUA...
POR ALCÍ SANTOS