26/07/2025

HUSTLER - A ILHA - CAPÍTULO 02

Ao atravessar o corredor de tábuas empenadas, fomos recebidos pelo gerente da pousada, Vargas. Usava uma camisa vinho de manga comprida — inadequada para o calor úmido — e sorria como quem tenta disfarçar pressa. Cumprimentou Billy com um aperto de mão formal demais para um garoto e me lançou um olhar demorado, como se buscasse decifrar códigos antigos no meu rosto.— Vocês são os últimos hóspedes a chegar. Espero que a viagem não tenha sido cansativa — disse, desviando o olhar para o registro na prancheta. — Cuidamos da segurança aqui. Se precisarem de qualquer coisa, me procurem.

O quarto era apertado, com uma janela voltada para a mata cerrada e paredes cobertas por pinturas rústicas. Billy caminhou até um quadro próximo à porta, examinando com atenção o desenho de uma criatura de cabelos flamejantes e pés virados para trás. Outras ilustrações do mesmo personagem — entre árvores, fogueiras, até mesmo no teto — marcavam presença em cada canto. O sotaque apressado de Vargas soou atrás de nós:

— Aqui chamam de Curupira. Protetor da floresta. Dizem que confunde caçadores e quem entra sem permissão.

Billy tocou o quadro suavemente, olhos brilhando de perguntas não feitas. Me sentei na cama, tentando não pensar no fato de que o colchão parecia ligeiramente úmido, nem no cheiro persistente de mofo. Vargas ajustou a persiana improvisada e, antes de sair, parou na porta.

— Assim que estiverem acomodados, preciso falar com vocês. É urgente — disse, a voz baixa, tão grave quanto promissora de segredos. O rangido da porta ecoou após sua saída. Billy segurou uma das ilustrações do Curupira, o olhar fixo nos pés ao contrário. 

— Se até o gerente parece assustado, é porque a coisa aqui é séria, Hustler — murmurou. O silêncio, enfim, pareceu mais cheio do que nunca. 

CONTINUA...

POR ALCÍ SANTOS 

VINGADOR NEGRO - VERDADE DE AÇO - CAPÍTULO 1 DE 10

Quando D. Gabriel despertou naquela manhã desconfiou de algo errado já que tinha ouvido certo burburinho vindo do andar de baixo da casa, mas apenas ao ver Emília e Sancho, dois de seus empregados, teve a certeza.
Eles haviam preparado a mesa com o café da manhã, mas ele sequer sentou antes de perguntar:
— O que aconteceu?
Emília ajeitou o cabelo preto em contraste com sua pele morena e falou:
— Nada para o senhor esquentar a cabeça, D. Gabriel.
— Se você não quiser contar, talvez Sancho me conte — ele disse com um sorriso sarcástico no rosto.
Sancho era um sujeito calvo vestido com uma calça suja e uma camisa que outrora fora branca. Ele lançou um olhar desconfiado para Emília que retribuiu com um olhar de reprovação.
— Não é necessário se preocupar, señor.
— Então irei descobrir na cidade.
Emília agarrou um pedaço do tecido do vestido entre dedos e disse:
— Não queremos que pense que estamos pedindo a sua ajuda, D. Gabriel. Já somos muito gratos pelo emprego. Nem todos os dons de Austin contratariam estrangeiros.
— Bah! Não fico emocionado com a bajulação, mas ficarei grato se compartilharem comigo o motivo de sua angústia.
Notando que seu senhor era irredutível, a mulher finalmente contou a verdade:
— São os mexicanos. Deve se lembrar de que os ajudou a comprar uma porção de terra há alguns meses.
— Sim, estou lembrado — ele concordou tomando um pouco de café. — Há alguns de seus primos entre eles, certo?
Os dois assentiram.
— Bem, ficamos sabendo que foram acusados de roubo esta manhã. Uma dúzia deles está presa na delegacia de Austin — foi Sancho quem explicou.
D. Gabriel desistiu de colocar o pedaço de bolo de milho na boca e perguntou:
— Quem fez a acusação?
— D. Hernandes Torres, o rancheiro que já foi do exército.
Gabriel pousou a mão no queixo e ficou pensativo por alguns segundos.
— O que o xerife disse?
— Ainda não se pronunciou, mas é a palavra de Torres e seus homens contra a dos mexicanos. Quem o senhor acha que vai triunfar? — Sancho falou de modo quase desesperado.
Gabriel limpou a boca, se levantou e saiu à procura de seu chapéu. Emília desembestou atrás dele como um caçador em busca da presa.
— Senhor, por favor, não precisa fazer isso.
— O que pensa que vou fazer? — o jovem perguntou erguendo a sobrancelha.
— Não precisa se meter em confusão para nos ajudar mais uma vez. O senhor já fez muito quando facilitou a compra daquelas terras.
— E se me lembro bem, D. Gaspar não gostou nada de sua intromissão — Sancho complementou.
Gabriel soltou uma risada sarcástica e segurou os dois pelos ombros em seguida.
— Meus caros, eu me viro com esses engomados de gravata. O que pretendo é garantir que seus parentes terão um julgamento justo.
E deixou-os para ir até a cidade.

CONTINUA...

POR NAÔR WILLIANS

23/07/2025

CORREIO ÔMEGA

 Salve, pessoal!


Passando por aqui para avisar que teremos uma nova aventura do Vingador Negro! Dessa vez, nosso vigilante mascarado terá que ajudar um grupo de mexicanos acusados de roubo por um rancheiro de Austin.

Essa nova história estreia nessa sexta feira. Não percam!

Além disso, se o tempo me permitir, teremos a volta de John Caveira, o caçador de recompensas, até o final do ano. Torçam para que dê certo, pois acredito que estamos sem aventuras individuais do John desde 2017. É tempo pra caramba! E venho ensaiando o retorno dele há bastante tempo, mas sem sucesso. Na verdade, venho ensaiando o retorno de VN e JC faz anos. Bem, um deles saiu do ensaio. Esperemos que o outro também.

Mega abraço.

NAÔR WILLIANS - O ESCRITOR DOS ENSAIOS


18/07/2025

HUSTLER - A ILHA - CAPITULO 01

O cheiro de mofo e salitre impregnava o convés inferior do navio quando adotei meu vigésimo terceiro nome: Hustler. Um termo que corta como lâmina —pode significar trapaceiro, sobrevivente, ou apenas alguém que se recusa a morrer.
Minhas unhas afundavam na madeira úmida enquanto eu contava os passos dos marinheiros no piso superior. Vinte e cinco anos fugindo me ensinaram: até um suspiro pode ser pista.
Las Vegas ainda habita meus pesadelos. O brilho dourado dos cassinos se faz agulhas sob minha pele; o sabor amargo da cocaína misturado a sangue, mordendo próprio  lábio para não expor nomes.
Eu lia rostos melhor que livros — uma pálpebra tremula antes da mentira, um dedo coça o polegar sutilmente antes da traição. Construí um império decifrando esses detalhes.
E o perdi do mesmo modo. Agora, no transatlântico Voyager, meu corpo se escondia junto à parede da cozinha, observando os passageiros através do monitor de segurança.
Mãos se apertavam com força desnecessária. Riso durava um segundo a menos do que o necessário. Até o garçom, inclinando levemente o copo de champanhe — um ex-agente da Interpol, se minha intuição ainda valia algo. No terceiro dia, o garoto rompeu meu protocolo.
Billy. Dez anos, cabelos negros como as asas do corvo que matei na infância para provar que não sentia medo. Ele não apenas olhava as pessoas — as dissecava. Seus olhos recaíam sobre cada gesto: o capitão alisando o queixo ao mentir sobre o atraso, a socialite francesa tocando o pingente de rubi sempre que mencionavam o magnata desaparecido do petróleo. A primeira conversa foi um duelo silencioso:
— Você também enxerga os padrões — ele declarou, empilhando cubos de açúcar em forma de pirâmide.
Meu café esfriou enquanto, sem perceber, eu replicava sua construção com sachês de adoçante. O navio balançou e nossas torres ruíram ao mesmo tempo. Na escola isolada da Suíça onde nos escondemos depois, Billy aperfeiçoou seu método. Anotava em códigos as inconsistências dos professores:
— O professor de química cheira a pólvora depois das "aulas particulares" com a diretora — sussurrou numa noite, desenhando equações invisíveis no ar pesado do dormitório.
Eu fingia ignorar o caderno, repleto de setas conectando desaparecimentos de alunos a visitas "oficiais" ao porão. Agora, na Amazônia, é a floresta que nos observa. 
O ar pesa como um cobertor molhado sobre os pulmões. Billy congela diante de uma árvore marcada por garras a exatos 1,83 metros — altura média de um homem adulto. Seus dedos tremem ao tocar os sulcos, enquanto eu conto os gritos de arara que soam quase como palavras humanas.
— Eles estão nos testando — ele murmura.
Não preciso perguntar quem. A selva respira em sincronia com minha frequência cardíaca.
As folhas murmuram meu nome verdadeiro — aquele que nem Billy conhece. Bom, eu acho que não. À noite, entre os sons que rastejam para dentro da barraca, Billy me pergunta pela sétima vez por que fugimos de Vegas. Meus dentes perfuram a bochecha até saborear o metal do passado. O psicopata que fui ou que forjaram em mim, sorri das trevas.
A selva não é inimiga. É espelho. E, no rio negro que corta entre as árvores ancestrais, vejo refletido não o rosto de agora, mas o da menina que incendiou seu primeiro cassino aos doze anos. Billy aperta minha mão gelada enquanto o último fragmento de mim que ainda tenta ser humano sussurra:
"Desta vez, ao corrermos, será em direção à verdade ou fugindo dela?"
 
CONTINUA...
 
POR ALCÍ SANTOS  

16/07/2025

CORREIO ÔMEGA

Boa tarde a todos os leitores.

Estou "aparando" alguns personagens pois durante os anos eu Alcí Santos e meu amigo Naôr Willians, criamos vários personagens e devido ao nosso tempo não estamos conseguindo dar conta de todas as histórias.

Da minha parte, permanecerão com mais temporadas os seguintes heróis e  com menos temporadas indicarei com um asterisco.

- 12⁰ D.P.

- HUSTLER (Temporada de 2025)

- Detetive Alcí *

- Querub e Diab *

- HZW e T-35 *

 - Vingador Negro (a cargo de Naôr)

 - O CAVEIRA (a cargo de Naôr)

Estarei entrando em contato com Naôr para saber se ele publicará neste ano de 2025.

Um abraço a todos.

ALCÍ SANTOS  

NOVO!

HUSTLER - A ILHA - CAPÍTULO 10

Finalmente, ao amanhecer, o enigma se desvendou. Um compartimento secreto na pedra se abriu, revelando não ouro ou joias, mas uma essência l...